A chamada “lula vampiro do inferno” – Vampyroteuthis infernalis – produziu o maior genoma de cefalópode já sequenciado, revelando profundos laços evolutivos entre lulas e polvos. O genoma, excedendo 11 bilhões de pares de bases, é mais que o dobro do tamanho de outros genomas de lula. Esta descoberta fornece informações cruciais sobre como estas criaturas distintas divergiram de um ancestral comum há mais de 300 milhões de anos.
O legado genético de um fóssil vivo
Apesar do apelido intimidante, a lula vampiro não é uma lula ou polvo verdadeiro; em vez disso, representa uma linhagem antiga que se separou no início da história dos cefalópodes. Vivendo nas profundezas escuras além dos 600 metros, é uma relíquia do passado, mantendo características perdidas nas espécies modernas. Os pesquisadores obtiveram um espécime por captura acidental, permitindo esta análise genética inovadora.
Tamanho do genoma e elementos repetitivos
O genoma da lula vampiro é várias vezes maior do que o das lulas e polvos contemporâneos. O principal motivo? Impressionantes 62% consistem em sequências repetitivas de DNA, que aumentam o tamanho do genoma sem necessariamente adicionar novos genes funcionais. No entanto, esta estrutura inchada ainda contém pistas valiosas.
Arquitetura cromossômica revela conexões antigas
Comparações com genomas de outros cefalópodes – incluindo lulas, chocos, polvos e até mesmo o bizarro argonauta lamacento (um polvo sem casca) – mostram que a lula vampiro preserva uma estrutura cromossômica ancestral comum às linhagens de lula e polvo. Os primeiros polvos também possuíam esta estrutura semelhante à de uma lula antes dos seus cromossomas sofrerem mistura e fusão significativas, um processo que provavelmente acelerou as suas adaptações evolutivas.
“A lula vampiro mantém uma herança genética que antecede ambas as linhagens [da lula e do polvo]. Isso nos dá uma visão direta dos primeiros estágios da evolução dos cefalópodes.” — Emese Tóth, Universidade de Viena
Implicações para a compreensão das origens dos cefalópodes
O genoma da lula vampiro atua como uma “Pedra de Roseta” para interpretar a evolução dos cefalópodes. Isso confirma que os polvos já compartilharam uma disposição cromossômica com as lulas, sugerindo um ancestral comum mais recente do que se pensava anteriormente. O genoma relativamente inalterado da lula vampiro contrasta fortemente com a rápida mistura cromossômica observada na evolução do polvo, fornecendo um ponto de referência único para a compreensão de como essas linhagens divergiram.
Esta descoberta sublinha a importância de estudar criaturas obscuras do fundo do mar para desvendar os mistérios da vida na Terra. O genoma da lula vampiro é uma ferramenta poderosa para decifrar a história evolutiva dos cefalópodes, oferecendo uma visão sem precedentes das origens de alguns dos invertebrados mais inteligentes e adaptáveis do planeta.






























