A inevitável ascensão da inteligência humana: a perspectiva de um neurocientista

9

O surgimento da consciência humana não foi um acidente cósmico, mas um resultado previsível da trajetória evolutiva da vida, argumenta o neurocientista Nikolay Kukushkin em seu novo livro, One Hand Clapping: Unraveling the Mystery of the Human Mind. O argumento central é simples: dada a física fundamental da vida – especificamente o impulso incessante em direcção à aquisição de energia e à complexidade – algo semelhante à inteligência humana era quase inevitável na Terra.

Definindo a Consciência: Da Biologia à Filosofia

Kukushkin enquadra a consciência não como um “ingrediente extra” místico, mas como um tipo particular de causalidade que se desenrola dentro do cérebro. É um processo cíclico de previsão, percepção e reavaliação, impulsionado pela circulação constante de loops causais no cérebro. Ao contrário dos computadores, que formam um “modelo” estático antes da inferência, o cérebro humano atualiza continuamente as suas crenças com base nos dados recebidos, criando um sistema de feedback dinâmico.

Essa distinção não é apenas teórica. Ele destaca por que a inteligência artificial, na sua forma atual, fica aquém da senciência genuína. As arquiteturas de IA existentes separam a memória e o processamento, enquanto o cérebro humano integra ambos simultaneamente, permitindo o autotreinamento por meio de inferência.

A hipótese do cérebro social: a complexidade impulsiona a inteligência

Um dos principais impulsionadores da inteligência humana, segundo Kukushkin, é a complexidade social. O tamanho do cérebro está diretamente correlacionado com o tamanho do grupo social: grupos maiores requerem maior capacidade cognitiva para navegar na intrincada rede de intenções, emoções e relacionamentos. Este não é um caso de inteligência que permite a sociedade, mas sim de uma sociedade que exige inteligência. À medida que o tamanho dos grupos crescia, também crescia a necessidade de cérebros mais sofisticados, capazes de lidar com a complexidade social exponencial.

A linguagem atuou então como um catalisador, acelerando essa tendência. A linguagem humana é única na sua generatividade infinita – na sua capacidade de criar novos significados indefinidamente. Esta não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas um vírus cognitivo, que reforça o desenvolvimento do cérebro ao longo das gerações. A coevolução da linguagem e do cérebro é mútua, cada um impulsionando o outro como polinizadores e flores.

A inevitabilidade dos eucariontes e além

Kukushkin empurra esta lógica ainda mais para trás, argumentando que o surgimento dos eucariotas – células contendo estruturas internas como as mitocôndrias – foi o momento crucial que colocou a vida na Terra neste caminho. A capacidade dos eucariontes de consumir outros organismos inteiros e extrair energia criou uma corrida armamentista evolutiva, favorecendo formas de vida cada vez mais complexas.

Esta complexidade, embora vantajosa, também introduziu vulnerabilidade. Os organismos tornaram-se dependentes da ingestão constante de energia e de mecanismos de defesa, o que acabou levando ao desenvolvimento do cérebro para antecipar e evitar o perigo. Depois que os cérebros surgiram, o processo tornou-se autossustentável: os cérebros não conseguem codificar geneticamente todo o conhecimento necessário, forçando-os a aprender de forma independente, a desenvolver motivações e, em última análise, a pensar por si próprios.

“Somos o culminar desta trajetória. Não havia nada de especial na nossa linhagem em comparação com todo o resto.”

Conclusão

A ascensão da inteligência humana não foi um acaso. Foi a consequência lógica de princípios biológicos fundamentais: aquisição de energia, complexidade e adaptação implacável. Desde os primeiros eucariontes até aos humanos modernos, cada passo foi impulsionado pelas mesmas forças subjacentes, tornando o surgimento de algo como nós não apenas provável, mas quase inevitável.