A crescente indústria de chocolates artesanais no Brasil: do feijão à boutique

13

O Brasil, berço do grão de cacau, está passando por um aumento na produção artesanal de chocolate. Durante décadas, o país forneceu cacau bruto aos mercados globais a preços baixos, com as principais marcas de chocolate a lucrar com as suas colheitas. Agora, uma nova onda de chocolateiros brasileiros está surgindo, atendendo a um crescente mercado interno de chocolates de alta qualidade e ao mesmo tempo marcando seus produtos com ingredientes exclusivamente brasileiros.

A mudança da exportação para a produção local

Tradicionalmente, o Brasil tem funcionado como fornecedor de matéria-prima na indústria global de chocolate. Os grãos de cacau eram colhidos, vendidos a baixo custo e transformados em produtos acabados em outros lugares. Essa dinâmica deixou pouco valor dentro do próprio Brasil. No entanto, os empresários estão agora a inverter esse modelo. Eles estão se concentrando na produção dentro do Brasil, criando chocolates de luxo que atraem consumidores exigentes nos centros urbanos.

A mudança é impulsionada por uma procura crescente de produtos premium e pelo desejo de capitalizar a riqueza agrícola do país.

O Sabor do Brasil: Ingredientes Únicos

O que diferencia esses chocolates brasileiros é a incorporação de sabores nativos da Amazônia. Os chocolateiros estão misturando cacau com ingredientes como:

  • Cumaru: Uma semente aromática que lembra baunilha.
  • Bacuri: Uma fruta floral amanteigada que adiciona uma riqueza distinta.
  • Castanha-do-pará: Um alimento local conhecido e apreciado.
  • Bagas de Açaí: Conhecidas por suas propriedades antioxidantes e sabor de frutas silvestres.
  • Cupuaçu: Primo amazônico do cacau, com perfil mais leve e mais picante.

Como diz Guilherme Leal, fundador da Dengo Chocolates, esses ingredientes criam “o sabor do Brasil”. O objetivo é produzir chocolate de alta qualidade e com clara identidade nacional.

De Pequenas Fazendas a Redes Nacionais

O novo cenário do chocolate brasileiro abrange um amplo espectro de produtores. Pequenas fazendas de propriedade local estão experimentando processos do tipo bean-to-bar na Amazônia, enquanto empresas maiores, como a Dengo Chocolates, estão expandindo com boutiques em todo o país. Esta diversidade na escala de produção sugere que o movimento do chocolate artesanal está a tornar-se um negócio dominante.

Leal destacou esta mudança durante uma entrevista na conferência climática COP30 em Belém, enfatizando o potencial da indústria para o crescimento sustentável.

Esta nova era da produção brasileira de chocolate marca um passo significativo na criação de valor no país, afastando-se do antigo modelo focado na exportação. À medida que a procura interna cresce,